RESENHA CRÍTICA
A REALIDADE DE CADA UM
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo.
(1ª edição 1984) 5ª edição. São Paulo, SP.
Editora Brasiliense, 1988.
Everardo
P. Guimarães Rocha é carioca nascido em
um de outubro de 1951. Estudou no Colégio São Vicente de Paula e, em 1975, formou-se em Comunicação Social na PUC do Rio
de Janeiro. Concluiu o Mestrado de Comunicação da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, em 1979. Em 1982, obteve o
grau de Mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ. Sob a orientação do Prof. Dr.
Roberto da Matta, escreveu a dissertação “Magia e Capitalismo: um estudo
antropológico da publicidade” na qual investiga a ideologia dos anúncios
publicitários e procura compará-los aos mitos, rituais e ao pensamento mágico
das sociedades tribais. Na atualidade, é professor do Departamento de
Comunicação Social da PUC/RJ, bolsista do CNPq e cursa o Doutorado em
Antropologia Social do Museu Nacional. Tem diversos trabalhos publicados, entre
os quais “Um índio Didático” na coletânea Testemunha Ocular: Textos de
Antropologia Social do Cotidiano da Editora Brasiliense. Sua carreira o levou
aos estudos para o roteiro do filme Quilombo de Cacá Diégues (BRASÃO, 2015,
p.1).
A obra, O que é o Etnocentrismo, escrita de forma clara, com fácil
entendimento, estrutura-se em cinco capítulos bem definidos. O autor utiliza
discurso direto fundamentando-se na História da Antropologia. Apoia-se em
teóricos de renome como Franz Boas, Emile Durkheim, Lévi-Strauss, Radcliffe-Brown,
Malinowski . Esses autores criaram as bases para um maior entendimento do
conceito de etnocentrismo. Ele mostra o caminho percorrido para superar etnocentrismo por meio do desenvolvimento da
ideia de relativização cultural, tendo como tema do discurso diferentes visões do conceito de cultura.
No primeiro capítulo, Pensando em partir, o autor conceitua
etnocentrismo, e apresenta o embate da descoberta do “outro”. De acordo com
Rocha, o etnocentrismo pode ser definido como uma visão do mundo em que o nosso grupo é considerado
como acima de todos os outros e os
outros devem ser vistos e sentidos de acordo com nossos valores,nossos modelos
e a forma como definimos a nossa existência.
O autor afirma que o
etnocentrismo acontece entre pessoas de culturas diferentes que convivem e também entre
pessoas de uma mesma cultura, gerando juízos de valores de um em relação aos costumes do outro, sendo
o resultado da dificuldade em aceitar as diferenças. Ele explica a relativização, como a dificuldade em compreender o “outro”,
em sua própria visão, entendendo que essa realidade se altera de acordo com a
visão de cada um e que os valores não são absolutos, não se aplicando a todos
os seres humanos da mesma forma.
No segundo capítulo, Primeiros movimentos, Rocha trata do
nascedouro da Antropologia e de como enfrentou o etnocentrismo na concepção do
“outro”. O autor faz um estudo do século XVI para poder entender o sentido da descoberta de que existiam
outros povos, ou seja outras culturas. O Evolucionismo que há um processo contínuo
de desenvolvimento, o que o faz superior a cada etapa vencida, Dessa forma, o
outro é diferente quando está num estágio inferior da evolução. Essa forma de
pensar leva à ideia de que todos caminham da mesma forma para o progresso,
existindo graus de evolução cujos níveis se medem pela cultura. Ainda assim,
com essa visão etnocêntrica, as diferenças do outro passaram a ser reconhecidas
como um processo de evolução, deixando de ser considerado como animal e passando a ser reconhecido
humano. Restava saber como definir o nível de evolução de cada cultura. Rocha
cita pensadores ao definir cultura como sendo a régua pela qual se pode
classificar as culturas: selvageria, barbárie ou civilização. Essa definição é
altamente etnocêntrica, uma vez que o autor inclui a própria cultua como sendo
a mais evoluída. O autor mostra que não
há diferença entre a mentalidade colonialista do século XVI e a mentalidade
evolucionista do século XIX. Ambas acreditam que a própria cultura é a melhor e
que por isso, todas as outras devem se alinhar aos meus valores.
No terceiro capítulo, O Passaporte, Rocha cita a contribuição
de Franz Boas para a Antropologia ao perceber a importância de estudar as
“culturas humanas nos seus particulares”.
Boas lembra que cada grupo produzia a sua cultura a partir de suas
condições históricas, climáticas e linguísticas e percebeu que era necessário
estudar as sociedades em si mesmas, com
suas particularidades, afastando o Ocidente como referência. A perspectiva de Boas leva a uma valorização da história de
cada povo, o que tornou o Difuncionismo importante para a compreensão da
diversidade cultural. Rocha cita o livro Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre, que, segundo ele, mostra que
é “possível entender a sociedade brasileira olhando os pontos microscópios de
relação entre os senhores de engenho e os escravos( p.44).
No quarto capítulo, Voando alto, Rocha fala da importância de nomes como Durkheim, Malinowski,
Radcliffe-Brown para a Antropologia e as Ciências Sociais na busca de uma identidade.
Ele esclarece que na hipótese evolucionista haveria um acúmulo de progresso no homem
desde o mais primitivo até o homem civilizado. No Difuncionismo há o “estudo
concreto de cada cultura” e apesar da importância da história para as duas escolas, Radcliffe-Brown discorda
da vinculação da compreensão entre o presente e o passado de uma cultura,
argumentando que o presente não precisa “necessariamente ser explicado pelo
passado”. Com Durkheim e os fatos
sociais descritos por ele, a sociedade
passa a ser um novo ser, cujo comportamento pode ser estudado. Sendo assim, a
sociedade passa a ser vista como algo mais do que a soma de indivíduos. É
preciso, no entanto, ir ao encontro do “outro”, o que a Antropologia faz
adquirindo novos elementos com esses novos povos que vem a conhecer.
No último capítulo, A Volta por cima, Rocha faz
um retrospecto do que foi dito e discorre sobre a Antropologia do passado e de
como se vê a cultura é entendida na atualidade. Para o autor, a Antropologia
procura entender a cultura das sociedades do pondo de vista do “eu” e do
“outro”. Ele enseja que a Antropologia poderia ser considerada como um local
onde as sociedades poderiam buscar formas de organização, um sistema de
comunicação entre si e que pudesse alcançar um sentido para a vida humana. Ele
ainda diz que o antropólogo busca a lógica para entender a realidade, porque
cada povo tem seu próprio estilo de vida. Dessa
maneira, o antropólogo pode se
libertar das concepções da sociedade do “eu”.
Diante da realidade do nosso mundo,
hoje, a ideia da globalização em que as decisões são tomadas sem considerar a
identidade dos diversos povos que o habitam; onde a violência, o desrespeito e
o preconceito com os diferentes têm sido banalizados, as discussões sobre a
relativização e o etnocentrismo devem ser prioritárias e abrangentes.
Excelente livro, esclarece o fenômeno
etnocêntrico e aponta formas de dominá-lo, uma vez que é um mal a ser
combatido, devendo ser isso um exercício diário e individual, para se chegar ao
coletivo. Somente a percepção do outro, em sua singularidade, nos fará entender
a dimensão do todo, do qual fazemos parte por natureza e direito.
Deve ser lido pelos amantes da
Antropologia e de outras áreas afins, pelos profissionais e acadêmicos e
sociedade em geral, para se obter a compreensão do que seja a realidade de cada
um.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASÃO,
Heber Junio Pereira Brasão. RESENHA. Getec, v.5, n.9, p.61-63/2015.
Disponível
em:
Acesso 23 abr. 2019.
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