ANÁLISE: O Show de
Trumann
O Show de Trumann é
um filme norte-americano de 1998
dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol. Estrelado por Jim Carrey,
alguns críticos dizem ser uma comédia, outros, no entanto, dizem ser um drama
que corresponde à vida de cada um.
Existem na internet diversos estudos e opiniões
sobre esse filme. Dessa forma, pode-se inferir que as interpretações são
variadas. Acredita-se que o filme propõe uma reflexão sobre a vida na terra,
hoje. Outros denunciam as muitas maneiras utilizadas por órgãos governamentais
e empresas midiáticas que têm interesse em monitorar a vida dos usuários das
redes sociais. Nesse caso, o domo mencionado no filme seria apenas uma analogia
aos muitos espaços em que vivem os seres
humanos, mas que podem se tornar como uma prisão devido às imposições da
realidade criada por cada um.
O filme pode ser comparado a
um reality show como os conhecidos
aqui no Brasil como o Big Brother e
outros apresentados pelas emissoras de televisão. O objetivo do criador do show é mostrar as diversas prisões que
os indivíduos criam para si de acordo com seus interesses. Dessa forma, ele
acompanha a vida do personagem central desde o seu nascimento até a vida adulta
em todas as passagens. As pessoas que convivem com Trumann são atores,
inclusive a esposa com quem mantém um casamento de fachada, sem o saber. Ele é
visto ao vivo, por 24 horas pelo país inteiro.
Todos os acontecimentos que ele vive são planejados
e repetidos, dia a dia. Com isso, o diretor comprova o alheamento em que as
pessoas vivem sem se darem conta do que acontece ao redor. A personagem não
percebe o estranhamento de certos acontecimentos que poderiam dar pistas do
inusitado de sua vida. O diretor questiona como as pessoas aceitam a própria
realidade de suas vidas sem se queixarem, sem interrogarem se essa é realmente
a realidade. Com isso, fica claro que a vida vivida por Trumann são
experiências programadas.
A questão é: isso acontece
somente em uma narrativa fictícia ou estamos todos sujeitos? Somos autônomos
para criar nossa própria realidade ou também somos manipulados pelo mercado, e por nós mesmos, quando passamos a
aceitar uma ideia, acreditando que está
tudo bem. Não questionamos outras realidades, e assim não percebemos que na
verdade, é tudo falso, imposto por nossa inércia.
Quando criança a personagem
central “perde” o pai num acidente de barco, propositalmente, sendo que a
intenção do diretor era fazer com que ele ficasse com medo de água. Assim, ele
cresce acreditando que o pai morrera afogado, no entanto, o pai ainda vivia.
Percebe-se então a manipulação das emoções e também a dominação pelo medo. Além
de ser monitorado por inúmeras câmeras, Trumann é constantemente vigiado pelos
próprios atores o que reforça a repetição dos acontecimentos todos os dias.
Nos reality shows do mundo real as pessoas sabem o que está
acontecendo, que estão sendo observadas e manipuladas. Elas jogam, fingem, para
alcançar o objetivo que é um prêmio em dinheiro. Trumann não sabia. Por isso,
constata-se que ele vive um estado de alienação por não perceber o que está acontecendo.
Essa situação é comprovável,
e comum, no mundo de hoje. As pessoas
vivem uma realidade, criadas por elas, de acordo com seus interesses, sem se
darem conta do que realmente acontece e de que todos os fatos estão
interligados, sendo que tudo que acontece ao nosso redor, e mesmo longe, poderá
nos atingir de uma forma ou outra. Não se trata de lutar para ter o poder de
transformar a realidade, porque algumas coisas fogem ao nosso controle, mas,
sim, de ter o conhecimento sobre essa realidade e se proteger de uma dominação
perniciosa.
O filme denuncia o
alheamento em que as pessoas vivem, dentro de sua bolha, num processo de
individualismo, sem se preocupar com os semelhantes. Esse comportamento reporta
a um egoísmo tão marcante que denota a solidão vivida pelo protagonista imerso
em si mesmo.
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