segunda-feira, 17 de junho de 2019


ANÁLISE: O Show de Trumann

O Show de Trumann é um filme norte-americano  de 1998 dirigido por Peter Weir e escrito por Andrew Niccol. Estrelado por Jim Carrey, alguns críticos dizem ser uma comédia, outros, no entanto, dizem ser um drama que corresponde à vida de cada um.

Existem na internet diversos estudos e opiniões sobre esse filme. Dessa forma, pode-se inferir que as interpretações são variadas. Acredita-se que o filme propõe uma reflexão sobre a vida na terra, hoje. Outros denunciam as muitas maneiras utilizadas por órgãos governamentais e empresas midiáticas que têm interesse em monitorar a vida dos usuários das redes sociais. Nesse caso, o domo mencionado no filme seria apenas uma analogia aos muitos espaços em que vivem os seres  humanos, mas que podem se tornar como uma prisão devido às imposições da realidade criada por cada um.

O filme pode ser comparado a um reality show como os conhecidos aqui no Brasil como o Big Brother e outros apresentados pelas emissoras de televisão. O objetivo do criador do show é mostrar as diversas prisões que os indivíduos criam para si de acordo com seus interesses. Dessa forma, ele acompanha a vida do personagem central desde o seu nascimento até a vida adulta em todas as passagens. As pessoas que convivem com Trumann são atores, inclusive a esposa com quem mantém um casamento de fachada, sem o saber. Ele é visto ao vivo, por 24 horas pelo país inteiro.

Todos  os acontecimentos que ele vive são planejados e repetidos, dia a dia. Com isso, o diretor comprova o alheamento em que as pessoas vivem sem se darem conta do que acontece ao redor. A personagem não percebe o estranhamento de certos acontecimentos que poderiam dar pistas do inusitado de sua vida. O diretor questiona como as pessoas aceitam a própria realidade de suas vidas sem se queixarem, sem interrogarem se essa é realmente a realidade. Com isso, fica claro que a vida vivida por Trumann são experiências programadas. 
A questão é: isso acontece somente em uma narrativa fictícia ou estamos todos sujeitos? Somos autônomos para criar nossa própria realidade ou também somos manipulados pelo mercado,  e por nós mesmos, quando passamos a aceitar  uma ideia, acreditando que está tudo bem. Não questionamos outras realidades, e assim não percebemos que na verdade, é tudo falso, imposto por nossa inércia.

Quando criança a personagem central “perde” o pai num acidente de barco, propositalmente, sendo que a intenção do diretor era fazer com que ele ficasse com medo de água. Assim, ele cresce acreditando que o pai morrera afogado, no entanto, o pai ainda vivia. Percebe-se então a manipulação das emoções e também a dominação pelo medo. Além de ser monitorado por inúmeras câmeras, Trumann é constantemente vigiado pelos próprios atores o que reforça a repetição dos acontecimentos todos os dias.

Nos reality shows do mundo real as pessoas sabem o que está acontecendo, que estão sendo observadas e manipuladas. Elas jogam, fingem, para alcançar o objetivo que é um prêmio em dinheiro. Trumann não sabia. Por isso, constata-se que ele vive um estado de alienação por não perceber o que está acontecendo.

Essa situação é comprovável, e comum, no mundo de hoje.  As pessoas vivem uma realidade, criadas por elas, de acordo com seus interesses, sem se darem conta do que realmente acontece e de que todos os fatos estão interligados, sendo que tudo que acontece ao nosso redor, e mesmo longe, poderá nos atingir de uma forma ou outra. Não se trata de lutar para ter o poder de transformar a realidade, porque algumas coisas fogem ao nosso controle, mas, sim, de ter o conhecimento sobre essa realidade e se proteger de uma dominação perniciosa.

O filme denuncia o alheamento em que as pessoas vivem, dentro de sua bolha, num processo de individualismo, sem se preocupar com os semelhantes. Esse comportamento reporta a um egoísmo tão marcante que denota a solidão vivida pelo protagonista imerso em si mesmo.
           


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