Esperança
“Cheguei a Beirute
em 1973, após uma guerra civil de palestinos e muçulmanos contra os cristãos...
Aquilo era muito diferente de tudo o que
havia vivido, até então, a começar pelo valor que se dá à própria vida, no
Brasil e no Líbano, no cristianismo e no islamismo, nas culturas ocidental e
oriental.
No
entanto, sendo uma mesma pessoa, senti, acredito, as dores das guerras de duas
formas distintas e complementares. Memorizei datas, fatos e personagens com
seus impactos em minha vida, mas o medo do risco de vida diário à época das
guerras ainda dispara meu coração...
Após
aquele conflito, por mais de um ano de
paz, pude me adaptar ao modo de vida dos libaneses, aprender sua língua e seus
valores. A partir de 75, vivi literalmente no meio das batalhas, seja nas
guerras de rua, nos conflitos de muçulmanos e cristãos, de xiitas contra o
Exército libanês, seja contra os inimigos externos, especialmente, para nós
muçulmanos, os israelenses.
Apesar
de relembrar cada fato da história da minha vida e dos conflitos, hoje não
sofro com minhas perdas do passado, humanas e materiais. Das oito crianças que
tive em meu ventre, restaram-me três... Mesmo assim, o sofrimento atual supera
tudo o que vivi durante as guerras.
Mas
o amor acalenta as dores.... Espero que minha experiência, apenas uma pequena
demonstração do que se vive na guerra, possa contribuir para que haja paz entre
todos nós, irmãos num único Deus.
Foi
para me aproximar d’Ele que me tornei muçulmana, entregando minha alma convicta
ao consenso familiar, na busca da harmonia. E, enquanto meu corpo resiste às
guerras, meu coração dilacerado sangra visceralmente à espera do elixir capaz
de cicatrizar as chagas da saudade... Que Ele possa me conduzir no caminho da
verdadeira libertação” – Maria Helena
Dorinha Aguiar
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