3 PERSPECTIVAS TEÓRICAS
Para
a realização da pesquisa com o tema voltado para a utilização da linguagem
poética na obra Grande Sertão: Veredas, como mecanismo para a expressão do amor
entre Riobaldo e Diadorim, objetivando responder os questionamentos e alcançar os objetivos propostos, foi
realizado o estudo de alguns autores que detêm conhecimentos
sobre Linguagem. Tornou-se necessário,
para o entendimento e conceituação do que seja Linguagem, adentrar, ainda que
superficialmente, no campo da Linguística, com Ferdinand Saussure.
Esse estudioso trata da estrutura da
língua e foi quem definiu pela primeira vez, e com maior clareza, o objeto da
linguística “scrito sensu,” isto é, a
língua. Ele afirma que a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos
outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de
uma comunidade, possui homogeneidade.
Na dicotomia saussureana “língua x
fala”, postula-se que a língua (langue)
é um sistema de signos e leis combinatórias
e por isso homogênea, uma vez que nenhum indivíduo pode criá-la ou
modificá-la, enquanto a fala (parole) é a expressão individual e momentânea de
cada indivíduo em que interferem muitos
fatores extralinguísticos e no qual se fazem sentir a vontade e a liberdade
individuais, e assim ela é heterogênea.
Em seus estudos, Saussure enfatiza os estudos da língua em detrimento da
fala. Observa-se sua argumentação em
trechos de Cursos de Linguística Geral:
a
língua não constitui, pois, uma função do falante: é o produto que o individuo
registra passivamente; não supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém
somente para a atividade de classificação. Ela é um objeto bem definido no
conjunto heteróclito dos fatos da linguagem. [...] Ela é a parte social da
linguagem, exterior ao individuo, que,
por si só, não pode criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em
virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.
Enquanto a linguagem é heterogênea, a língua assim delimitada é de natureza
homogênea: constitui-se num sistema de signos [...]. (SAUSSURE, 1995. p. 22-23)
Além de Saussure, foi de fundamental
importância, para embasar essa pesquisa, a leitura e análise da obra Questões de literatura e estética de Mikhail
Bakhtin (1988), que apresenta um
minucioso estudo sobre a linguagem e faz um contraponto às ideias saussureanas. Em sua teoria Bakhtin não concorda com a língua como um
sistema fechado, estável, sincrônico, homogêneo associada a valores ideológicos.
Também para Bakhtin a língua é uma atividade social, porém assentada nas
necessidades de comunicação, tendo por natureza o dialogismo. Ao contrário de Saussure, Bakhtin
evidencia a parole, o discurso
compartilhado pelos indivíduos em uma interação social. Ele percebia a linguagem como um processo de
interação mediado pelo diálogo conforme
afirma:
a língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical,
não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos
enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as
pessoas que nos rodeiam. (BAKHTIN, 2002, p.283).
Esses discursos
(enunciados) serão mediáticos somente se vinculados a outras determinadas
formas enunciativas (situacionais, históricas, sociais). Isso quer dizer
que esses enunciados terão sentido em determinados contextos. Destarte, Bakhtin
privilegia o sujeito e a interação verbal, ou seja, a linguagem, nos seus estudos.
Após
a leitura e análise de obras dos dois autores supracitados optou-se pelo aprofundamento nos estudos de
Mikhail Bakhtin, no que concerne à presente pesquisa. Esse procedimento ocorre
devido ao fato de considerar-se as teorias bakhtinianas mais congruentes com o
tema do presente trabalho.
Entretanto,
deve-se assinalar a importância das breves investigações sobre as teorias de
Saussurre para a formalização dos conceitos sobre o que seja a língua. Foi de
extrema relevância o entendimento destes conceitos para a elaboração desta
pesquisa e para a apreensão de conhecimentos.
Lécia Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário